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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Qual é o Culto que agrada ao SENHOR? (Isaías 66.1-4)


Texto: Isaías 66.1-4 (Tradução de Almeida, Revista e Atualizada - ARA - SBB)
1   Assim diz o SENHOR:        O céu é o meu trono,        e a terra, o estrado dos meus pés; 
que casa      me edificareis vós?        E qual é o lugar do meu repouso?
2   a. Porque todas estas coisas,        a minha mão fez       e todas vieram a existir, diz o SENHOR, 
b. mas o homem para quem olharei é este:        o aflito e abatido de espírito        e que treme da minha palavra.
3   a. O que imola um boi        é como o que comete homicídio; 
o que sacrifica um cordeiro,        como o que quebra o pescoço a um cão; 
o que oferece uma oblação,        como o que oferece sangue de porco; 
o que queima incenso,        como o que bendiz a um ídolo. 
b. Como estes escolheram os seus próprios caminhos,        e a sua alma se deleita nas suas abominações, 
4   assim eu lhes escolherei o infortúnio        e farei vir sobre eles o que eles temem; 
porque clamei, e ninguém respondeu, falei, e não escutaram;        mas fizeram o que era mau perante mim e escolheram aquilo em que eu não tinha prazer.

INTRODUÇÃO
Em primeiro lugar, vamos estudar o nosso texto de acordo com o seu contexto histórico, seu lugar no livro de Isaías, sua estrutura literária, bem como o seu lugar na literatura bíblica (contexto literário).
Contexto Histórico. O livro de Isaías está dividido em 3 grandes blocos: o primeiro, dos capítulos 1 a 39, traz profecias no contexto do reino dividido do Sul, do Reino de Judá, nos dias de Uzias, Jotã, Acaz e Ezequias, reis de Judá (século VIII a.C.). Os profetas Amós e Oséias, no Reino de Israel (Norte) e o profeta Miquéias, no Reino de Judá (Sul), são contemporâneos de Isaías. Os capítulos 40 a 55 trazem profecias que apontam para o contexto do Exílio na Babilônia (Século VI a.C.). Os capítulos 56 a 66 trazem profecias que apontam para o período do pós exílio, ou seja, do período em que o templo e a cidade de Jerusalém estavam sendo reconstruídos (aproximadamente final do Século VI a.C. - a partir de cerca de 520 a.C.).
Estrutura Literária. Nosso texto apresenta a seguinte estrutura:
A  -  O Criador não descansa em edifícios feitos por homens (vv. 1-2a)
B  -  O Criador olha para os humildes que temem a Palavra de Deus (v. 2b)
A´  -  Aos que escolheram seus próprios maus caminhos e não o que agrada ao SENHOR, Deus escolherá o que é mau e desagradável (vv. 3-4).
Aqui, estamos estabelecendo uma relação entre os vv. 1-2a e vv. 3-4, em contraste com o v. 2b, em relação aos personagens do texto. Enquanto os vv. 1-2a e vv. 3-4 tratam daqueles que escolheram seus próprios caminhos, que não agradam ao SENHOR, caminhos que incluem a edificação de uma casa ao SENHOR como lugar do seu descanso e o sistema de sacrifícios deste mesmo templo, o v. 2.b trata daqueles que são humildes, oprimidos, mas que temem a Palavra de Deus - ou ainda, daquilo que agrada ao SENHOR. A estrutura aponta para um contraste claro entre o templo (juntamente com seus sacrifícios) e a Palavra de Deus enquanto caminho para o culto verdadeiro, o culto que agrada ao SENHOR.
Contexto Literário. Segundo J. Severino Croatto [1], a estrutura literária de Isaías 56-66 aponta para um centro, ou seja, o capítulo 61. Cada letra no início da linha apresenta o tema (ou eixo semântico) dos pares de textos e do texto central.

A    Is 56-58       (se liga a)     Is 65-66            ("críticas")
B    Is 59.1-14    (se liga a )    Is 63.7-64.11    ("oração/salvação")
C    Is 59.15-21  (se liga a)     Is 63.1-6           ("fragmentos apocalipticos")
D    Is 60            (se liga a)     Is 62                 ("Jerusalém e sua glória")
X                           Is 61                                  ("mensagem de libertação")

O nosso texto, Is 66.1-4, faz parte do eixo "A", "críticas", em que o profeta denuncia os pecados do povo, principalmente sobre a falta de fidelidade aos mandamentos justos e misericordiosos de Deus, as práticas idólatras, a opressão e a violência contra os fracos (56-58), bem como a denuncia contra a rebeldia do povo contra Deus e a falsa religião, alvo do juízo de Deus (65-66). Este é o contexto do nosso texto: crítica contra os pecados do povo, em específico, críticas contra a falsa religião!
Isaías 66.1-4 é citado algumas vezes no Novo Testamento: Mt 5.34-35 (v. 1); At 7.49-50 (vv. 1-2).

1) QUE CASA EDIFICAREIS PARA O MEU DESCANSO? (vv. 1-2a) - Eixo A.
Os judaítas que saíram da Babilônia agora estavam buscando edificar o templo e a cidade de Jerusalém. Neste contexto, a profecia de Isaías vem falar ao coração do povo de Deus.
"Assim diz o SENHOR: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me edificareis vós? E qual é o lugar do meu repouso? Porque a minha mão fez todas estas coisas, e todas vieram a existir, diz o SENHOR" (vv. 1-2a).
Lembra as palavras de 1Reis 8.27, na qual o rei Salomão ora ao SENHOR quando da consagração do templo de Jerusalém, dizendo:
"Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei".
O profeta denuncia a ideia equivocada de que o templo de Jerusalém é a morada do SENHOR. Deus não está preocupado com edifícios, mas com a vida. O que agrada ao SENHOR não é o edifício do templo, que fora construído por Salomão, destruído pelos Babilônios em 587 a.C. e reconstruído a partir de cerca de 520 a.C.
Nos livros de Ezequiel e de Daniel, o trono do SENHOR tem rodas, para demonstrar que a glória de Deus não ficou restrita ao território de Israel, ou a cidade de Jerusalém (destruída nos dias de Ezequiel) ou mesmo ao templo (também destruído nos dias de Ezequiel). O trono do SENHOR tem rodas para demonstrar que a sua glória continua com o seu povo, mesmo no exílio, mesmo na angústia e debaixo da opressão e da violência! Ora,
"Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de Dias se assentou; sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça, como a pura lã; o seu trono eram chamas de fogo, e suas rodas eram fogo ardente" (Daniel 7.9).
Nem mesmo o universo pode conter a Deus de forma plena. Não é Deus quem está em algum lugar no universo, mas é o universo que está na palma da mão de Deus! O Criador é maior que a sua criação! Mesmo o universo inteiro não pode contê-lo! Todas as coisas foram criadas por Ele, por meio dEle e para Ele!
Portanto, o primeiro eixo descarta a ideia de que o templo de Jerusalém seja a verdadeira habitação do SENHOR, onde Ele pode descansar. Em outras palavras, não é no templo de Jersalém que está o prazer do SENHOR, não é no edifício feito por mãos o lugar da sua habitação!

2) AOS QUE ESCOLHERAM SEUS PRÓPRIOS MAUS CAMINHOS E NÃO O QUE AGRADA AO SENHOR, DEUS ESCOLHERÁ O QUE É MAU E DESAGRADÁVEL (vv. 3-4) - Eixo A´.
Está presente no capítulo 66 o contraste entre os que temem ao SENHOR e os que odeiam os que temem ao SENHOR, como pode ser observado no v. 5:
"Ouvi a palavra do SENHOR, vós, os que a temeis: Vossos irmãos, que vos aborrecem e que para longe vos lançam por causa do vosso amor ao meu nome e que dizem: Mostre o SENHOR a sua glória, para que vejamos a vossa alegria, esses serão confundidos"
Os vv. 1-2a apresentam uma ideia errada acerca do SENHOR: que Ele habita no edifício do templo. Mas quem pensa assim? O v. 3 denuncia o vazio dos sacrifícios oferecidos no templo de Jerusalém, como expressões imundas e idolátricas. Em outras palavras, o templo de Jerusalém e seu sistema de sacrifícios não expressam o verdadeiro culto ao SENHOR, mas são um caminho de falsa segurança religiosa. Mas por que? O v. 3 explica: "estes escolheram os seus próprios caminhos, e a sua alma se deleita nas suas abominações". Os sacrifícios são tratados como idolatria abominável.
Vamos fazer uma pausa para refletir sobre os sacrifícios no Antigo Testamento. Ao mesmo tempo que estes sacrifícios são, por vezes, ordenados e valorizados (Levítico 23.37-38; Deuteronômio 12.1-31), outras vezes são descartados e denunciados como expressão de injustiça e idolatria (Jeremias 7.21-28). Mas por que? Por um lado, eles tem o seu valor, mas por outro são vazios. Uma afirmação não nega a outra, mas a complementa. Mas como? O Novo Testamento, em Hebreus 10.1-10, ensina o seguinte:
"1   Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem. 2   Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que prestam culto, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados? 3   Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos, 4   porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados. 5   Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me formaste; 6   não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado. 7   Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade. 8   Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto te deleitaste (coisas que se oferecem segundo a lei), 9   então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. 10   Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas".
Há um velho ditado que diz o seguinte: "o dedo aponta para a lua, mas ai daquele que olha para o dedo e não para a lua". Uma vez que o dedo está apontando para a lua, o objetivo é olhar para a lua, e não para o dedo! Do mesmo modo, Hebreus afirma que o templo de Jerusalém e o sistema sacrificial do templo eram como que um dedo apontando para Cristo. É por isso que, ao mesmo tempo que o sistema sacrifricial do Antigo Testamento é valorizado, enquanto "o dedo que aponta para uma realidade superior", este sistema é também denunciado como vazio, pois não é nele que a salvação é realizada! É por isso que Isaías relaciona o sistema sacrificial do templo e o próprio templo com a ideia de abominação e caminhos próprios (dos injustos). E aqueles que escolheram o que é mau, receberão o que é mau; quem escolheu o que aborrece ao SENHOR, receberá do SENHOR o que aborrece a si próprio!
O templo e seus sacrifícios não são o caminho de Deus e não agradam ao SENHOR. O prazer do SENHOR não está no templo e nos sacrifícios. Um culto que consiste simplesmente em lugares e rituais sagrados não é caminho para alegrar ao SENHOR, o Criador de todas as coisas. Então, qual é o Culto que agrada ao SENHOR? Qual é o verdadeiro culto? Uma primeira pista está ainda no início do v. 4:
"assim eu lhes escolherei o infortúnio e farei vir sobre eles o que eles temem; porque clamei, e ninguém respondeu, falei, e não escutaram". Ou seja, o que agrada ao SENHOR é algo que Ele diz, diz respeito ao seu clamor dirigido ao seu povo. Mas o que seria isso? É o que veremos a seguir:

3) O Criador olha para os humildes que temem a Palavra de Deus (v. 2b) - Eixo B.
O caminho que agrada ao SENHOR não é o templo ou os sacrifícios do templo. O caminho que agrada ao SENHOR é a Sua Palavra! (Veja Salmo 50; Isaias 1.10-20; Jeremias 7.21-28). Ora, "mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra" (v. 2b).
Em outras palavras, o SENHOR não habita em edifícios feitos por mãos humanas, mas Ele está com o "aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra". A sua alegria não está na carne e no sangue dos sacrifícios, mas sim na fidelidade daqueles que ouvem e obedecem a Sua Palavra, como fica claro no v. 4: "clamei, e ninguém respondeu, falei, e não escutaram".
O SENHOR, através de Isaías, ensina ao povo que o culto verdadeiro não está em um lugar ou em ritos externos vazios de legitimidade própria, mas sim na vida daqueles que, apesar das angústisas, provações e opressões, se mantém fiéis a Palavra de Deus, ou seja, no caminho da justiça, da misericórdia e do perdão.
Este é o ensino de Jesus:
"Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade" (João 4.19-24).
Jesus também ensina o seguinte:
"Se me amais, guardareis os meus mandamentos" (João 14.15).
O local do culto verdadeiro não é um edifício feito por mãos, mas é a própria vida! O sacrifício a ser oferecico não é o sangue de touros ou de bodes, mas a própria vida submissa a vontade de Deus!
Jesus Cristo, o Filho de Deus, foi enviado pelo Pai ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele. Jesus foi o único ser humano que, tendo sido tentado, jamais pecou, e sem pecado morreu na cruz, assumindo sobre si a condenação dos nossos pecados. Mas ele venceu e ressuscitou ao terceiro dia, vencendo a morte, o pecado, o mundo e o diabo. Após a ressurreição, Jesus enviou o Espírito Santo aos nossos corações, o qual nos transforma, de glória em glória, para o culto que deve ser celebrado não num lugar específico, não um culto restrito a ritos externos, mas o culto verdadeiro, no Espírito, na vida! Adoramos a Deus uno e trino no Espírito, pela graça do Pai em Cristo Jesus.

CONCLUSÃO
O Culto que agrada ao SENHOR é a adoração em espírito e em verdade. É a expressão de um povo que ama ao SENHOR, que ama a Sua Palavra, e que busca sempre crescer na fidelidade a Palavra de Deus, pela graça de Deus.
Hoje há "igrejas" construindo réplicas do templo de Jerusalém, réplicas da arca da aliança, tocando seus sophares e mergulhando em rituais externos e caducos de sentido, de vida. Precisamos fazer a oração do Pai Nosso, e aprender com Nosso Senhor a orar: "Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu..." (Mateus 6.9-10). Não precisamos do templo de Jerusalém, dos sacrifícios de animais ou da arca da aliança, pois Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio ao mundo como a verdadeira arca da aliança, o verdadeiro tabernáculo de Deus entre os homens. Ao ressuscitar, envia sobre nós o Espírito Santo, de modo que o santuário de Deus entre os homens não são réplicas caducas de objetos sagrados, mas é o povo de Deus, homens e mulheres que se tornaram filhos e filhas de Deus em Cristo, discípulos de Jesus, nos quais Deus habita pelo seu Espírito. Ao vivermos guiados pela Palavra de Deus e orientados pelo Espírito Santo, numa vida de justiça, misericórdia e perdão, adoramos a Deus em espírito e em verdade. E viver assim, guiados pela Palavra e No Espírito, é possível apenas em Cristo. Jesus é o verdadeiro templo, o grande Sumo Sacerdote, o sacrifício único e suficiente para o perdão de todo pecado. NEle somos feitos povo de Deus no Espírito.
Que Deus nos abençoe e tenha misericórdia de nós, para a Sua glória!


BIBLIOGRAFIA
J. Severino CROATTO. Isaías - A palavra profética e sua releitura hermenêutica - vol. III: 56-66. Petrópolis: Vozes, 2002.
F. DAVIDSON (org.). O Novo Comentário da Bíblia - vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1963.
L. Alonso SCHÖKEL, J. L. SICRE DIAZ. Profetas I. São Paulo: Paulus, 1988.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Salmo 126: A Alegria, o Clamor e o Chamado da Salvação


Texto do Salmo 126 (tradução Almeida Revista e Atualizada - ARA)
1 Quando o SENHOR restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha.
2 Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações se dizia: Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles.
3 Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso, estamos alegres.
4 Restaura, SENHOR, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe.
5 Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão.
6 Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.

INTRODUÇÃO
O Salmo 126 é um cântico de romagem, ou cântico das subidas, ou seja, um cântico que os judeus cantavam enquanto se dirigiam alegremente ao Templo em Jerusalém.
O Salmo 126 foi escrito durante o período da dominação Persa, por judeus que vieram do exílio na Babilônia. A monarquia havia chegado ao fim; os babilônios haviam destruído o Templo e a cidade de Jerusalém, e levado cativos a liderança política, religiosa e militar de Jerusalém que havia sobrevivido aos conflitos.
Conforme a narrativa bíblica, o SENHOR chamou a Abração para fazer dele uma grande nação. De Abraão veio Isaque, de Isaque, Jacó, de Jacó vieram 12 filhos e uma filha. Dos filhos de Jacó vieram as 12 tribos de Israel. Os filhos de Israel foram escravizados no Egito por 400 anos, mas libertados pelo SENHOR através de Moisés, que conduziu o povo pelo deserto por 40 anos, tempo em que o SENHOR entregou a sua Lei (Torá - instrução) e manifestou a sua presença. Josué, servo de Moisés, conduziu o povo para a conquista da terra de Israel, período seguido pelos juízes, ou libertadores. Após o estabelecimento da monarquia, cujos primeiros reis foram Saul, Davi e Salomão, o reino foi dividido ao meio: o reino do norte, Israel, cuja capital era Samaria e cujo primeiro rei foi Jeroboão, por um lado, e por outro lado o reino de Judá, cuja capital era Jerusalém e o primeiro rei, Roboão, filho de Salomão. O reino do norte, Israel, foi destruído pelos Assírios em 722 a.C., e o reino do sul, Judá, chegou ao fim em 587 a.C., pelos Babilônios, liderados por Nabucodonozor.
O SENHOR havia feito um chamado claro para Israel:
Antes de subir ao Monte Sinai, para receber as tábuas da Lei, o SENHOR ordenou que Moisés dissesse aos filhos de Israel: "Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel" (Ex 19.5-6).
Jeremias, que profetizou no final da monarquia e viveu nos dias em que Jerusalém foi destruída pelos babilônios, afirma: "Naquele tempo, diz o SENHOR, serei o Deus de todas as tribos de Israel, e elas serão o meu povo. (...) Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR. Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo" (Jr 31.1,32-33).
Diante da infidelidade do povo, que segundo afirma Jeremias não foi fiel ao seu chamado, tendo anulado a aliança feita com o SENHOR, Deus não deixou de agir com misericórdia, graça e salvação para com o povo de Israel.

1) A ALEGRIA DA SALVAÇÃO (vv. 1-3)
Na Babilônia, os exilados suspiravam por Jerusalém: "Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas, pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião. Como, porém, haveríamos de entoar o canto do SENHOR em terra estranha?" (Sl 137.1-4).
Quando Ciro, o persa, conquista a Babilônia, ele autoriza o retorno dos judeus para a terra de Israel (Ed 1.1-4).
O livro do profeta Isaías falou acerca do persa Ciro: "Eu, na minha justiça, suscitei a Ciro e todos os seus caminhos endireitarei; ele edificará a minha cidade e libertará os meus exilados, não por preço nem por presentes, diz o SENHOR dos Exércitos" (Is 45.13).
Uma grande alegria tomou conta dos exilados na babilônia que, agora, podiam voltar para a terra de Israel: "Quando o SENHOR restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações se dizia: Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles. Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso, estamos alegres" (Sl 126.1-3). Foi como a volta do filho prógido, ou a devolução da posse da terra para a família no ano do jubileu! A alegria da salvação, o júbilo pela ação de Deus na vida do seu povo, trazendo restauração! O povo havia caído na idolatria contra Deus e na injustiça contra o próximo, mas a graça e a misericórdia de Deus são maiores que a sua ira (Dt 5.6-10!).
Como os exilados, que voltaram para a terra de Israel, precisamos aprender a nos alegrar com a ação de Deus na nossa história. Deus é vivo e age hoje na história. E nós, cristãos, temos muito maior motivo para a alegria: o SENHOR não apenas nos livrou da opressão da terra estrangeira, mas em Cristo nos fez cidadãos do Reino de Deus! Cristo morreu pelos nossos pecados, ressuscitou para a nossa salvação, derrotou todos os inimigos de Deus, e está agora a direita do Pai, reinando e intercedendo por nós, até Aquele Dia, tão aguardado por nós, quando Ele virá e fará novas todas as coisas e enxugará dos olhos toda lágrima! Esta tão grande salvação deve renovar em nós a alegria que não depende de circunstâncias, as quais mudam a todo instante, deve nos levar a confiar na graça de Deus, que nos conduz a uma vida de justiça e de resistência a toda forma de opressão e violência! " Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos" (Fl 4.4).

2) O CLAMOR POR SALVAÇÃO (v. 4)
Se o SENHOR havia manifestado sua ação salvadora para os judeus que voltaram do exílio, por que eles clamam novamente por salvação? Ora,
"Restaura, SENHOR, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe" (Sl 126.4).
Compare o verso 4 com o verso 1: "Quando o SENHOR restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha" (Sl 126.1).
 Os exilados voltaram para a terra prometida, mas a cidade e o templo estavam destruídos. Ora, algo semelhante acontece conosco! Não cremos que a graça de Deus nos livra de todos os problemas, ou que, a partir da graça, sejamos autosuficientes e não precisemos mais de Deus! Muito pelo contrário! Quem crê em Deus conforme o ensino e o testemunho das Escrituras sabe e reconhece que a nossa vida pertence a Deus e que somos dependentes de Deus, que precisamos da graça e da misericórdia de Deus a cada dia (Lm 3.21-24). Este sentimento deve produzir em nós compaixão e humildade! A compaixão e a humildade da dependência de Deus devem nos conduzir a ter compaixão do próximo!
O salmista clamara ao SENHOR, para que a sorte do povo fosse restaurada, como as torrentes do Neguebe. O Neguebe é uma região desértica, na qual os rios secam nas estações das secas, mas brotam de forma maravilhosa e surpreendente na estação das chuvas, enchendo a paisagem de vida e beleza. O salmista não esqueceu o que afirmara no verso 1, mas nos lembra que quem um dia conheceu a graça e a misericórdia de Deus continua dependente de Deus. E o SENHOR é poderoso para nos surpreender com a sua bondade, como as águas do Neguebe!
Em Cristo, cremos que somos perdoados, amados e aceitos por Deus. No entanto, durante toda a nossa vida continuamos precisando a cada dia da graça, do amor, da misericórdia e do perdão de Deus. É um processo no qual buscamos fazer não a nossa própria vontade, mas a vontade de Deus. Enquanto a vida cristã prossegue em direção a santificação, ou seja, a uma vida nova em Cristo, guiados pela Palavra e no poder do Espírito Santo, somos transformados por Deus, de glória em glória, e o caráter de Cristo é formado em nós. A salvação é uma caminhada, um processo, que já teve início com a fé em Cristo, mas só estará completa na ressurreição, quando, nas palavras do Apóstolo Paulo, "agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido" (1Co 13.12). Assim, durante a sua vida, o cristão faz suas as palavras do salmista: "Restaura, SENHOR, a nossa sorte, como as torrentes do Neguebe"!

3) O CHAMADO DOS SALVOS (vv. 5-6)
Todo aquele que conhece a graça e a misercórdia de Deus, do Deus amoroso que é poderoso para escrever uma página nova na história da nossa vida, apesar dos nossos erros e pecados, é também alguém chamado por Deus. Não somos chamados por Deus apenas para desfrutar da salvação, da ação generosa de Deus na nossa história, mas também para nos tornarmos seus servos, seus cooperadores (1Co 3.9).
Israel tinha consciência do seu chamado, de ser luz para as nações (Is 51.4). Israel falha na sua missão, mas o Messias, Jesus Cristo, "filho de Davi, filho de Abraão" (Mt 1.1), veio ao mundo para que a graça e a misericórdia de Deus alcançassem as nações. Hoje, o Corpo de Cristo, que é a sua Igreja, ou seja, os filhos e filhas de Deus espalhados por toda a terra, tem o chamado de seguir a Jesus, no caminho da cruz que conduz à glória de Deus.
"Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes" (Sl 126.5-6).
Quem traz consigo a alegria da salvação e o clamor contínuo por salvação é chamado pelo SENHOR da seara para tomar a cruz da semeadura e, assim, participar da colheita gloriosa! Os que voltaram do exílio agora se tornaram agentes da reconstrução daquilo que foi destruído. Neste momento novo, nesta nova etapa, precisavam da graça de Deus para reconstruir a cidade e o templo. O salmista tem consciência de que a semeadura precisava ser realizada, em meio a muitas dificuldades (lágrimas), pois houve muita oposição contra a reconstrução de Jerusalém e do templo (Ed 4.24-5.4; Ne 5.1-5).  Mas o salmista tem também a fé de que o SENHOR auxiliaria o seu povo, para que Seus propósitos fossem realizados. Seu trabalho, debaixo da graça de Deus, não seria vão, mas teria como resultado a alegria da colheita!
Em Cristo, aqueles que são alvo do amor, da graça, da misericórdia e do perdão de Deus são chamados por Cristo:
"Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século" (Mt 28.19-20).
A alegria da salvação e a ação contínua do salvador nos conduzem para a missão que Deus confiou ao seu povo, pela graça de Deus Pai, em Cristo e no poder do Espírito Santo. Nossa preocupação hoje não deve ser com edifícios (Jerusalém, Templo), mas o edifício novo, a Igreja de Cristo, homens e mulheres que são edificados sobre a Pedra Angular, que é Cristo. Chamados a semear a Palavra de Deus num mundo hostil a Deus e a Seu Filho Jesus Cristo.

CONCLUSÃO
Os exilados tinham consciência da sua história: um povo chamado por Deus para ser luz para as nações, para testemunhar a graça e a misericórdia de Deus, mas que, na sua caminhada, tropeçou na idolatria e na injustiça. Mas os pecados do povo não afastaram a fidelidade de Deus, que age em favor do mesmo povo para restaurar a sua sorte, trazendo para a terra de Israel novamente os que foram cativos na babilônia. Na terra de Israel, o povo continua passando por lutas e dificuldades, expressando a contínua dependência da provisão de Deus. Ao mesmo tempo que desfruta da graça e da misericórdia, o povo é chamado também para servir a Deus com alegre consagração, na reconstrução da cidade santa e do templo.
Somos cristãos, participamos da graça de Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor e Salvador. Hoje não estamos preocupados em reconstruir Jerusalém ou o seu templo, que foi destruído desde 70 d.C., mas na vida das pessoas, na edificação do Corpo de Cristo.  Nosso Senhor nos trouxe amor e perdão, continua renovando e transformando a nossa vida, mas nos chama para o serviço no Reino de Deus: obedecer a Palavra de Deus, anunciar o Evangelho do Reino, fazer discípulos de Cristo entre as nações, ensinando a Palavra de Deus para que o povo de Deus seja "capacitado para toda boa obra" e, enfim, conduzindo aqueles que abraçaram a fé em Cristo ao batismo (Mt 28.19-20).
A graça de Deus que traz perdão e a alegria da salvação é a mesma graça que nos transforma e conduz a uma nova vida em Cristo, assim como é a mesma graça na qual somos chamados para sermos discípulos de Jesus, homens e mulheres que tomam a sua cruz, que semeiam com lágrimas, para participar da alegria da grande colheita, no Reino de Deus!
Que Deus, o Pai, nos abençoe, para sermos encontrados na graça do Seu Filho Jesus Cristo, servindo com fidelidade no poder do Espírito Santo!



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