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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A Genealogia de Jesus em Mateus (Mt 1.1-17) - Uma mensagem de esperança


Hoje, vamos refletir sobre a mensagem de Mateus 1.1-17, a genealogia de Jesus em Mateus. Um belíssimo texto, com uma mensagem maravilhosa, mas muito pouco compreendida. Acreditamos que não seja coincidência o fato deste texto iniciar o Novo Testamento.

TEXTO

"Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. Abraão gerou a Isaque; Isaque, a Jacó; Jacó, a Judá e a seus irmãos; Judá gerou de Tamar a Perez e a Zera; Perez gerou a Esrom; Esrom, a Arão; Arão gerou a Aminadabe; Aminadabe, a Naassom; Naassom, a Salmom; Salmom gerou de Raabe a Boaz; este, de Rute, gerou a Obede; e Obede, a Jessé; Jessé gerou ao rei Davi; e o rei Davi, a Salomão, da que fora mulher de Urias; Salomão gerou a Roboão; Roboão, a Abias; Abias, a Asa; Asa gerou a Josafá; Josafá, a Jorão; Jorão, a Uzias; Uzias gerou a Jotão; Jotão, a Acaz; Acaz, a Ezequias; Ezequias gerou a Manassés; Manassés, a Amom; Amom, a Josias; Josias gerou a Jeconias e a seus irmãos, no tempo do exílio na Babilônia. Depois do exílio na Babilônia, Jeconias gerou a Salatiel; e Salatiel, a Zorobabel; Zorobabel gerou a Abiúde; Abiúde, a Eliaquim; Eliaquim, a Azor; Azor gerou a Sadoque; Sadoque, a Aquim; Aquim, a Eliúde; Eliúde gerou a Eleazar; Eleazar, a Matã; Matã, a Jacó. E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo. De sorte que todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze; desde Davi até ao exílio na Babilônia, catorze; e desde o exílio na Babilônia até Cristo, catorze" (Mt 1.1-17).

Introdução
O texto bíblico de Mt 1.1-17 tem alguns destaques:
a) trata-se de uma genealogia, um tipo específico de texto muito popular na Bíblia;
b) a ligação de Jesus com Davi e Abraão;
c) o resumo da história de Israel, de Abraão a Cristo, através dos personagens da genealogia;
d) a divisão da história em 4 períodos, a saber, i) de Abraão até Davi, ii) de Davi até o Exílio na Babilônia, iii) do Exílio na Babilônia até Cristo, iv) a partir de Cristo.
Feitas estas considerações iniciais, vamos refletir sobre a bela mensagem deste texto bíblico, que dá um maravilhoso testemunho acerca de Jesus Cristo.

1) Jesus vem inaugurar um novo tempo! 
Como é que o Novo Testamento começa? Com uma genealogia. Mas, afinal de contas, para que começar o Novo Testamento com uma lista de nomes? Simples: a genealogia de Jesus no Evangelho segundo Mateus não é uma simples lista de nomes, mas é muito mais.
Em primeiro lugar, esta "lista de nomes" é uma genealogia. E, na Bíblia, genealogia é muito importante. O livro de Gênesis, por exemplo, é estruturado a partir das genealogias (a palavra "genealogia" em hebraico é תּוֹלְדֹת [/toledot/]). Sempre que a palavra "genealogia" aparece em Gênesis, temos algo novo acontecendo, um divisor de águas, algo que vai marcar toda a história posterior.
Esta mudança na história pode ser percebida pela divisão da história de Israel, de Abraão até Cristo, em 4 períodos, entre os quais o último começa com o nascimento de Jesus de Nazaré.
A genealogia de Jesus em Mateus, no início do Novo Testamento, nos ensina que algo novo está acontecendo com Cristo. O Natal é a celebração desta novidade, capaz de mudar a história, não apenas da vida de uma pessoa, mas da família, da nação, de todas as nações! Jesus veio para mudar a história, pois trouxe da parte do Pai amor, perdão, paz e salvação!

2) Jesus vem para dar cumprimento às promessas de Deus
a) Jesus cumpre as promessas de Deus para Davi
Jesus é apresentado como Filho de Davi, Filho de Abraão. Historicamente, Abraão vem antes de Davi, mas Davi é citado antes de Abraão. Por que? Por uma questão de ênfase: Davi é o rei ideal de Israel, que conquistou a cidade de Jerusalém dos jebuseus, que venceu os filisteus - povo que ameaçava o reino de Israel -, que trouxe estabilidade ao reino. E Deus fez promessas importantes para Davi:
"Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; se vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de homens e com açoites de filhos de homens. Mas a minha misericórdia se não apartará dele, como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti. Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre" (2Samuel 7.12-16).
Ou seja, o SENHOR promete a Davi, através do profeta Natã, o seguinte:
a) O descentende de Davi edificará uma casa ao nome do SENHOR, para sempre;
c) O SENHOR estabelecerá o reino do descendente de Davi para sempre;
d) O descendente de Davi será chamado filho do SENHOR.
Estas são promessas maravilhosas. Mas nos dias de Salomão, filho de Davi com "a que fora mulher de Urias", uma casa foi construída ao SENHOR. Mas nos dias de Roboão, filho de Salomão, o reino sofreu uma baixa muito grande: as 10 tribos do Norte deixaram de servir a casa de Davi e escolheram para si outro rei, Jeroboão. O reino do Norte passa a se chamar Israel, e o reino do Sul, em que a casa de Davi continuou a reinar, reino de Judá. O reino do Norte foi destruído pelos assírios no ano 720 a.C., permanecendo ainda o reino de Judá. No entanto, em 587 a.C., Nabucodonozor destrói o templo de Jerusalém, construído por Salomão, destrói a cidade de Jerusalém e, alguns anos depois, põe fim à monarquia em Israel, além de levar a maior parte da população de Jerusalém para o Exílio na Babilônia. Desde então, até Cristo, o povo de Israel não teve mais rei sentado no trono, inclusive da casa de Davi. Tudo isso levou os exilados na Babilônia a uma profunda crise: "Será que a Palavra de Deus e suas promessas falharam?". Esta é a origem da esperança judaica acerca do Messias. Quem é o Messias? A palavra hebraica Messias é traduzida em grego por Cristo, e em português por "ungido", pois reis, profetas e sacerdotes eram ungidos no Antigo Testamento. A expressão "filho de Davi", no Novo Testamento, expressa a esperança dos judeus que Deus haveria de cumprir as suas promessas, a partir do "filho de Davi", que haveria de estabelecer para sempre o reino e a casa do SENHOR (Mt 9.27; 12.23; 15.22; 20.30-31; 21.9; Rm 1.3). E, de fato, a Palavra de Deus e as suas promessas não falharam, pois o descendente de Davi que iria construir uma casa do SENHOR e estabeleceria para sempre o reino não é Salomão, mas Jesus Cristo, o filho de Davi!
Jesus construiu uma casa ao SENHOR:
"Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas? Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo. Quando, pois, Jesus ressuscitou dentre os mortos, lembraram-se os seus discípulos de que ele dissera isto; e creram na Escritura e na palavra de Jesus" (João 2.18-22).
Após a sua ressurreição, Jesus enviou aos seus discípulos o Espírito Santo, de modo que, hoje, a verdadeira casa de Deus, o santuário de Deus, é o Corpo de Cristo, a Igreja (1Co 3.16-17; 1Co 6.19; 2Co 6.16; Ef 2.17-22).
Jesus estabeleceu para sempre o reino de Davi
Jesus é o Cristo, o Filho de Davi. Ele trouxe escândalo aos judeus, pois é o Messias servo sofredor, que não veio para humilhar as nações para a glória de Israel, mas veio reinar sobre todos, incluindo oa gentios no Reino de Deus. Jesus reina hoje (Lc 1.33; 1Co 15.25; 2Tm 2.11-12), pois é o Rei dos reis e Senhor dos senhores (1Tm 6.15; Ap 17.14; 19.16).
Jesus é chamado Filho de Deus
Ele não é chamado filho de Deus como os demais, pois Jesus é o Filho Unigênito de Deus, ou seja, o Filho único, pois Ele é o Verbo por meio de quem tudo o que existe foi criado (Jo 1.1-3), Ele é o Deus filho ùnico (Jo 1.18; 3.16; 1Jo 4.9).

b) Jesus cumpre as promessas de Deus para Abraão
O SENHOR fez promessa para Abraão:
"Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra" (Gênesis 12.1-3).
"Disse o SENHOR: Ocultarei a Abraão o que estou para fazer, visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra?" (Gênesis 18.17-18).
Paulo explica o cumprimento das promessas do SENHOR para Abraão em Cristo:
"Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. (...) Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro ), para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido. Irmãos, falo como homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa. Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo" (Gálatas 3.8,13-16).

Assim, podemos perceber que a genealogia de Jesus em Mateus afirma que Jesus Cristo, o filho de Davi, o filho de Abraão, veio para cumprir as promessas de Deus a Davi e a Abraão, de um reino eterno, de uma casa ao SENHOR, da bênção de Deus a todas as nações.

3) Jesus veio para trazer libertação
A genealogia mostra alguns casos escandalosos de pecado (Judá e Tamar, Davi e "a que fora mulher de Urias", etc.). Jesus assume uma história cheia de altos e baixos, de sucessos e fracassos. Mas o fracasso dá o tom na história até então, marcada pelo Exílio na Babilônia. É interessante notar que na Bíblia Hebraica, ou Tanakh, os livros estão organizados de outra forma que no Antigo Testamento cristão, pois para os judeus, o último livro é Segunda Crônicas, e não Malaquias. E Segunda Crônicas encerra a narrativa com o Exílio na Babilônia. Por que? Porque na perspectiva judaica, o exílio não terminou! Ele continua até hoje! Não há mais templo, não há mais sacerdócio, sacrifícios, reinado de Davi!
A história de fracasso das pessoas e, inclusive, do povo de Israel, é assumida por Jesus Cristo, que veio para escrever uma página nova nesta história. Jesus veio para redimir esta história de fracasso. Jesus veio para trazer perdão para os nossos pecados, para nos libertar dos nossos exílios. Só Jesus Cristo pode por fim ao exílio!
Jesus nos chama para voltarmos para casa, para a os braços do Pai, para a comunhão com o Criador.

4) Jesus nos ensina que Deus está no controle da história
A genealogia de Jesus em Mateus afirma que há 4 períodos na história:
- De Abração até Davi - 14 gerações;
- De Davi ao Exílio na Babilônia - 14 gerações;
- Do Exílio na Babilônia até Cristo - 14 gerações;
- A partir de Cristo - sem limitação de gerações.
Se compararmos as genealogias do Antigo Testamento com a de Mateus, vamos perceber que o evangelista omite alguns nomes, para que cada período fique com 14 gerações, por três motivos principais: a) na escrita hebraica os números correspondem a letras, e as letras do nome de Davi (דוד - /dwd/) somam 14: o Dálet vale 4 e o Vav vale 6, de modo que que o nome Davi me hebraico corresponde, pela soma de suas letras, ao número 14; b) o número 7 é um número muito valorizado na Bíblia, o que fica claro no livro do Apocalipse. Muitas vezes significa o que é completo, pleno. Cada período da história, segundo a divisão da genealogia, tem 14 gerações, ou seja, 2 vezes 7. Depois de três gerações, ou seja, 3 vezes 14, ou ainda, 6 vezes 7, temos o último período, inaugurado por Cristo - o qual é eterno, pois não tem idenficação de fim. E o período de Cristo é o Sétimo. Assim, Jesus dá início ao último período da história, onde conduz todas as coisas à sua plenitude!
c) períodos fixos de 14 gerações dão a ideia de um ato programado, planejado, executado, de Deus. É um recurso literário para afirmar o seguinte: Deus está no controle da história, e está conduzindo a história para o seu ponto alto, Jesus Cristo!
A cruz é a melhor expressão desta soberania de Deus na história. Judas negou a Jesus, os discípulos o abandonaram, a multidão pediu a sua crucificação, Pilatos o condenou... Todas estas atitudes foram contrárias a vontade de Deus, são pecaminosas. Deus não se alegra no pecado e não promove o pecado. No entanto, assim como homens que podem alterar o curso de um rio, Deus conduz a história de acordo com os seus planos, inclusive fazendo com que os atos de justiça e injustiça sejam canalisados para que Seus Planos de Salvação sejam cumpridos. Deus, o Pai, enviou seu Filho ao mundo para nos salvar. O Filho de Deus a si mesmo se entregou por nós, para nos salvar. O Espírito de Deus veio sobre nós, para nos salvar. Deus cumpre seus propósitos na história, apesar da injustiça e do pecado. Nem mesmo o pecado e a injustiça são capazes de frustrar os planos de Deus na história.
Jesus veio para conduzir a história ao seu alvo: justiça, amor, paz e salvação!

Conclusão
A genealogia de Jesus em Mateus nos ensina lições importantes. Jesus veio ao mundo para trazer um novo tempo, um tempo de graça, de misericórdia e de perdão. Ele veio para que as promessas do  SENHOR a Davi e Abração fossem cumpridas, a saber, o estabelecimento de um Reino Eterno, de uma Casa ao SENHOR (o Corpo de Cristo), a bênção de Deus para todas as nações. Jesus veio ao mundo para redimir a história de pecado e injustiça dos homens, para libertar a todos da miséria do exílio, enfim, para realizar o projeto de Deus de um mundo renovado pela sua graça: o Reino de Deus.
Jesus é poderoso para escrever uma história nova na sua vida.


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