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quinta-feira, 16 de março de 2017

O Credo Apostólico - 1) "Creio"

Nesta lição, vamos estudar a importância do Credo Apostólico expressa no pela palavra creio, a partir de quatro funções principais : 1) Batismal; 2) Instrutiva; 3) Doutrinária; 4) Litúrgica.

1. O Credo e sua função batismal.  "Creio, logo confesso".
O Credo Apostólico, como vimos na introdução, tem sua origem no "Símbolo de Fé", e no "Credo Romano Antigo" (século II). Ambos  eram confessados no ato do batismo . Isto nos ensina uma lição muito importante: fé viva é fé confessada.
A confissão da fé tem dois aspectos: individual e coletiva.
a) Confissão individual. Quando recitamos o Credo, dizemos: "Creio". Ao dizermos isso, estamos afirmando que a fé é uma decisão , que pela graça de Deus nós tomamos. Isto porque é Deus quem se revela a nós . Ora, "nós amamos porque Ele nos amou primeiro"(1Jo 3.19). Assim, a confissão "creio" é uma decisão, no sentido de uma resposta ao Deus que nos amou primeiro, que se revelou a nós, que tem agido na história pessoal de cada um de nós. Fica evidente a responsabilidade de cada um. Ora, "é pela confissão que o chamado demonstra pertencer a Cristo" .
b) Confissão coletiva. Hoje em dia, tem gente afirmando que ninguém além de si mesmo defende a doutrina verdadeira. Atitudes como estas levam muitas vezes a criação de novas igrejas. Neste sentido, o Credo Apostólico nos ensina que a fé não é apenas individual, mas também coletiva, pois é a fé do povo de Deus. Quando o credo diz: "Creio", está querendo dizer também: "Creio com meus irmãos e irmãs"; "Creio com a Igreja de Jesus Cristo". O próprio contexto batismal confirma esta afirmação, pois no batismo confessamos a nossa fé publicamente (Rm 10.9).
Lutero, o reformador do século XVI, afirmou certa vez: "o lugar do discernimento da Palavra de Deus é a comunidade de fé". Quando disse isso, o reformador estava falando que a fé não deve ser vivida apenas individualmente, mas também em comunidade. A própria doutrina da trindade, que estabelece a estrutura do Credo Apostólico, nos ensina que devemos viver em comunidade. Conforme afirma Karl Barth, "quando o indivíduo diz o sentido do Símbolo, Credo, ele não o faz como um indivíduo, mas ele se confessa, e isso quer dizer - ele inclui  a si mesmo na recognição pública e responsável feita pela Igreja" . O Credo testifica da comunhão que devemos ter uns com os outros, de nossa vida em comunidade (Hb 10.25).
c) Confissão individual e coletiva. Assim, o Credo nos ensina que a responsabilidade de confessar o Deus triúno diante dos homens é tanto individual quanto coletiva, pois o crente só é completo na comunhão com Deus e com a comunidade cristã.

2. O Credo e sua função instrutiva. "Creio, logo conheço".
O Credo era utilizado também como roteiro de ensino da doutrina. Isto porque sintetiza algumas das questões mais importantes da fé cristã, tais como:
a) A Trindade. "Creio em Deus... Pai Todo-poderoso... e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor... no Espírito Santo". A estrutura do Credo Apostólico é trinitária (Mt 28.19; Ef 2.18; etc.).
b) Encarnação "Creio... em Jesus Cristo ... que foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria" (Lc 1.34-35; Jo 1.14; Gl 4.4).
c) Morte e Ressurreição de Cristo. "Creio... em Jesus Cristo... padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao Hades; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia".
d) Escatologia. "Creio... em Jesus Cristo... subiu ao céu; está sentado à mão direita de Deus Pai, Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos".
e) Igreja. "Creio... na santa Igreja Universal, na comunhão dos santos".
f) Salvação. "Creio... na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna" (sobre a ressurreição do corpo, 1Co 15.42,53,54).

3) O Credo e sua função doutrinária. "Creio, logo pratico".
Já na Igreja Antiga, surgiram rapidamente grupos heréticos, ou seja, grupos de defendiam doutrinas que não foram consideradas de conformidade com as Escrituras. A resposta da Igreja a estes grupos foi tripla: O Credo, O Cânon e a Sucessão Apostólica. Vamos estudar como o Credo Apostólico foi uma ferramenta importante no combate às heresias, ou seja, às doutrinas não-Bíblicas.
Alguns destes grupos heréticos do período da Igreja Antiga foram os seguintes: os gnósticos, os marcionitas e os ebionitas (2Pe 2.1).
a) Gnósticos. De acordo com a filosofia grega, e não com as Escrituras do Antigo Testamento, os gnósticos afirmavam que há duas realidades concorrentes: a espiritual, que seria boa, e a física, que seria ruim. Por pensarem assim, afirmavam que Jesus é um ser espiritual, que veio ao mundo para nos dar o conhecimento (gnose) secreto necessário para a salvação.  Os gnósticos negavam a humanidade de Jesus, pois afirmavam que Jesus era homem apenas aparentemente (doutrina conhecida como docetismo).
b) Marcionitas. Filho do bispo de Sinope, e conhecedor da fé cristã, Marcião foi profundamente influenciado pela gnose. Viveu durante o século II. Pensava que o mundo material é mal, e se opunha ao judaísmo (a religião dos judeus da época de Jesus). Fundou a sua própria igreja (At 3.13). Márciom fazia distinção entre o Pai de Jesus Cristo, o Deus supremo que é todo amor, e Jeová, o deus do Antigo Testamento, um deus inferior, ciumento, arbitrário, vingativo, ligado à lei e ao juízo. O Pai de Jesus Cristo o enviou para nos salvar das garras de Jeová. Para Márciom, Jesus não nasceu de Maria, mas surgiu de repente no mundo, já adulto.
c) Ebionitas. Era um grupo de judeus que cria em Jesus de uma forma diferente da nossa. Para eles Jesus é Filho de Deus por adoção (adocionismo), a qual aconteceu ou no Batismo ou na Ressurreição. Cristo é colocado no mesmo nível dos profetas do AT, e é visto como o Novo Moisés (Hb 3.3). Os ebionitas negavam a preexistência de Cristo, seu nascimento da virgem e a encarnação.
Como pudemos perceber, as heresias dos gnósticos, marcionitas e ebionitas giravam em torno da cristologia, ou seja, da doutrina acerca de Jesus Cristo. Por isso o Credo Apostólico trata, em sua maior parte, de Cristo. Mas outro ponto muito importante do credo é a expressão "Creio... na ressurreição do corpo". É interessante notar que os gnósticos e os marcionitas afirmavam que a matéria é ruim, enquanto o credo afirma que o corpo também fará parte da ressurreição, e não apenas o espírito. Deus não faz as coisas pela metade. Vamos ressuscitar inteiros e não como fantasmas (Jo 20.26-29).
No combate às heresias, o Credo Apostólico nos convida para uma fé equilibrada. O credo nos convida à fé testificada nas Escrituras, pois Deus não se contradiz: se ele nos faz revelações hoje, estas estarão de acordo com a Sua Palavra (Hb 13.9; 2Tm 4.3; Tt 1.9, 2.1). O Credo testifica da Palavra de Deus e ensina a confessar a Palavra de Deus. E a Palavra de Deus não é ensino para ficar apenas na cabeça, mas para descer ao coração (sede da vontade) e se tornar vida na nossa vida. Por isso, a função doutrinária não visa o acúmulo de informações sobre a Bíblia, mas a prática da piedade (de uma vida consagrada a Deus).

4) O Credo e sua função litúrgica. "Creio, logo adoro".
Assim como em muitas de nossas reuniões nós oramos o "Pai Nosso" (Mt 6.9-15), na história da igreja muitos de nossos irmãos recitaram o Credo Apostólico como uma expressão de adoração ao Deus único e trino. Neste sentido, o credo nos convida a viver em adoração ao nosso Deus, a partir de uma fé saudável e bíblica. A igreja primitiva também recitava artigos de fé , como pode ser percebido no Novo Testamento:
Confissões de fé: 1Co 15.3-5; Rm 10.9.
Hinos: Fl 2.6-1; Cl 1.15-20.

Assim, percebemos que o Credo Apostólico foi criado como desenvolvimento de uma fórmula batismal, a qual os batizados adultos e os pais das crianças batizadas da Igreja Antiga confessavam no ato do batismo. O credo assumiu a fórmula atual para combater as heresias contrárias a Palavra de Deus, para ensinar a Palavra de Deus e para conduzir o povo de Deus a adoração e ao culto a Deus. Além disso, permanece a função fundamental do credo: o povo de Deus testemunha a sua fé em Deus e nas doutrinas da Palavra de Deus tanto pessoal quanto coletivamente. O Credo Apostólico aponta para a Missão da Igreja de Cristo (Mt 28.18-20) no fazer discípulos, batizar em nome da Trindade e ensinar o povo de Deus na sã doutrina, até a consumação dos séculos.

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