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quinta-feira, 23 de março de 2017

O Credo Apostólico - Lição 2 - Creio em Deus Pai

Hoje em dia, muita gente acha que o importante é ter fé, não importa no quê ou em quem esta fé está depositada.  Segundo as Escrituras, e conforme o testemunho do Credo Apostólico, a fé deve ser depositada no único Deus verdadeiro, o Deus Triúno (único e trino). O único Deus verdadeiro é Pai, Filho e Espírito Santo.


1. A ESTRUTURA DO CREDO APOSTÓLICO
O credo apresenta a seguinte estrutura:
CREIO EM DEUS
     ⇨ Creio em Deus Pai
     ⇨ Creio em Deus Filho
     ⇨ Creio em Deus Espírito Santo
CREIO NA SANTA IGREJA DE CRISTO
CREIO NA SALVAÇÃO
     ⇨ Creio na remissão dos pecados
     ⇨ Creio na ressurreição do corpo
     ⇨ Creio na vida eterna

Em outras palavras, o credo está dividido em duas grandes partes. Na primeira, ele trata da doutrina do Deus único e verdadeiro, Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Esta é a primeira e maior parte do credo. Na segunda, ele trata da doutrina da Igreja e da salvação

2. "CREIO EM DEUS PAI, TODO-PODEROSO"
O Pai é a primeira pessoa da trindade. É o Pai quem gera o Filho desde antes da fundação do mundo e é dele que procede o Espírito Santo. O Credo Apostólico chama o Pai de Todo-Poderoso. Vamos estudar agora um pouco do que significa no credo as expressões "Pai" e "Todo-Poderoso", no Antigo e no Novo Testamento .

2.1. DEUS COMO PAI NO ANTIGO TESTAMENTO.
Nesta porção da Bíblia, Deus é chamado de Pai 15 vezes  (Dt 14.1s; 32.6; Sl 68.5; 103.13; Is 63.15s; 64.7s; Jr 3.4s; 3.19s; 31.20; Os 11.1-11; Ml 1.6; 2.10).
Às vezes, é chamado de pai por ser o Criador (Dt 32.6; Ml 2.10).
Outras vezes, é chamado assim por ser misericordioso como um pai (Sl 103.13s).
Outras vezes, por ter escolhido a Israel dentre as nações, entrando com este povo numa relação especial (Dt 14.1s).
Outras vezes, no entanto, Deus é chamado de pai nos profetas para expressar a relação contraditória entre o Deus que ama e o povo que é a ele infiel (Jr 3.4s; 3.19s; Ml 1.6).
É chamado assim também num apelo à sua misericórdia (Is 63.15s; 64,7s), o qual Deus responde com o seu perdão (Os 11.1-11; Jr 31.9,20).
Finalmente, é chamado assim por ser o defensor dos órfãos e viúvas, ou seja, dos necessitados (Sl 68.5).
Conforme afirma Joachim Jeremias, "a última palavra do Antigo Testamento sobre a paternidade divina é esse 'saber' da incompreensível misericórdia de Deus e de seu perdão" .

2.2. DEUS COMO PAI NO NOVO TESTAMENTO.
Segundo os evangelhos, Jesus em suas orações se refere a Deus sempre como "Abbá" (Mc 1.35; 6.46; 14.32-42; Lc 3.21; 5.16; 6.12; 9.28; 11.1), com exceção de Mc 15.34 (par. Mt 27,46) . Segundo o testemunho dos evangelhos, bem como de Rm 8.15 e Gl 4.6, a palavra pela qual Jesus chama a Deus de Pai é "Abbá" , uma palavra aramaica que significa "meu Pai", ou "papaizinho". Abbá é uma palavra de origem infantil, e é como as crianças chamavam seus pais - uma expressão carinhosa de profunda intimidade. Segundo Joachim Jeremias,
"de um lado, as orações judaicas não contém um só exemplo do emprego de abbá para dirigir-se a Deus; por outro lado, Jesus a usava sempre quando rezava (com exceção do grito na cruz em Mc 15.34). Significa que temos aí, incontestavelmente, um traço característico do modo como Jesus, e somente Jesus, se expressava"(₁).

Cremos que este fato expressa o fato de que o Deus Filho é quem revela o Deus Pai, pois o Pai é identificado em relação ao Filho. Neste sentido, a revelação de Jesus Cristo, o Filho de Deus, não é apenas a revelação do Filho, mas também a revelação do Pai, pois o Pai não é outro que o Pai do Filho. É o que nos diz Jo 1.18 e Lc 10.22. É por isso que só se conhece o Pai ao se conhecer o Filho. Por isso também, a revelação de Deus Pai é incompleta sem a revelação do Deus Filho.

Segundo o Novo Testamento, Deus também é Pai porque em Cristo e no Espírito, somos recebidos como filhos (Jo 1.12; Rm 8.15; Gl 4.5-6; Ef 1.5; Rm 8.15).

2.3. O QUE SIGNIFICA CHAMAR A DEUS DE PAI?
Qualquer palavra é imperfeita e insuficiente para expressar a Deus. É por isso que a Bíblia usa imagens para expressar a Deus. Nem tudo pode ser percebido pela razão apenas, e por isso a Bíblia utiliza imagens, para nos falar não apenas com a razão, mas também com o instinto e a emoção. É o que Calvino chama de "acomodação divina", ou seja, que Deus, para se revelar a nós, se acomoda à nossa cultura, para transmitir a sua revelação de uma maneira que possamos entender - como Jesus fez com Nicodemos em Jo 3.12.
Vejamos  algumas imagens que a Bíblia usa para expressar a Deus:
Rocha         - (2Sm 22.2)
Cidadela         - (2Sm 22.2)
Fogo Consumidor - (Hb 12.20)
Isto não significa que Deus seja uma rocha, uma cidadela ou um fogo. Estas expressões querem nos dizer algo sobre Deus. O mesmo acontece com a expressão "Deus Pai".
Nossa cultura tende a valorizar a figura da mãe mais que a figura do pai. Um sinal disso são os valores que se gastam no comércio no dia dos pais comparado ao dia das mães. No tempo e lugar do Antigo e do Novo Testamento, culturalmente a figura mais valorizada era a do pai. No Antigo Testamento, nos quais Deus é comparado com uma mãe (Is 49.15; 66.13). Veja também Mt 23.37 e Lc 13.34. Sendo assim, em que sentido Deus é Pai? Nós, seres humanos, temos pai e mãe. Apenas o pai não pode gerar uma criança, pois também é necessária a presença da mãe. Mas, se Deus é Pai, quem é a mãe? Será que Deus é macho? E se é macho, onde está a fêmea?
Em Gn 1.27, a Bíblia nos diz o seguinte: "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou". Isto significa que neste verso homem quer dizer ser humano, pois diz respeito ao homem e à mulher. Ambos foram criados à imagem e semelhança de Deus.
Em Mt 22.23-33 e Mc 12.18-27 Jesus afirma que na ressurreição ninguém vai se casar ou permanecer casado, pois seremos como os anjos de Deus. Ou seja, o "ser como anjo" significa que não haverá mais distinção entre macho e fêmea, entre homem e mulher. A condição dos ressuscitados parece refletir a condição de Deus em relação aos gêneros. Se em Gálatas 3.28, Paulo fala da dignidade humana entre macho e fêmea, em Mt 22.23-33 Jesus está falando da condição dos ressuscitados, semelhantes aos anjos e, ao que parece, semelhantes a Deus em relação ao gênero. Se Deus fosse macho, haveria uma fêmea. Mas não há uma deusa. Assim, podemos concluir que Deus está acima das relações de gênero, ou seja, Ele está acima do "ser homem" ou do "ser mulher". Ele é Deus.

Assim, em relação à expressão "Deus Pai", concluímos que:
1) Expressa em primeiro lugar a relação única de Deus Pai com o Deus Filho;
2) Expressa a nossa relação com Deus Pai, que em Cristo e no Espírito nos torna seus filhos, pela sua graça;
3) Não expressa a ideia de que Deus seja macho, nem que seja fêmea, mas que Deus está acima da relação de gênero.

2.4. DEUS PAI TODO-PODEROSO
Por que Deus é Todo-Poderoso? Alguém, certa vez, disse o seguinte: "Se Deus é Todo-Poderoso, será que Ele pode criar um círculo quadrado, ou uma pedra mais pesada que ele possa carregar, ou deixar de existir e voltar a existir em seguida?". Na verdade, estas especulações são pura bobagem. Segundo a Bíblia, Deus é Todo-Poderoso independente destas perguntas tolas, que tem apenas aparência de sabedoria. Deus é Todo-Poderoso porque ele criou todo o que existe (Gn 1.1-2.25; Sl 95.6; Is 40.26; 41.20; 42.5; 45.18; Ap 10.6), e porque domina sobre toda a sua criação (Sl 22.28; 66.7; 89.9; 103.19; Dn 4.32). Em outras palavras, Deus é Todo-Poderoso porque tudo o que existe foi criado por Ele, e todas as coisas estão debaixo do seu poder.
Deus Pai é apresentado na Bíblia como onipotente - ou seja, tem todo o poder - (Jó 42.2; Is 43.13; Mt 19.26; Lc 1.37), onisciente - ou seja, sabe todas as coisas - (Sl 147.5; Hb 4.13; 1Jo 3.20) e onipresente  ou seja, está em todo lugar - (Dt 4.39; Sl 139.8; Is 66.1; Jr 23.24; At 17.27).
Uma outra objeção à doutrina bíblica de que Deus seja Todo-poderoso é atribuída ao filósofo grego Epicuro:
"Ou Deus quer eliminar o mal do mundo mas não pode; ou pode, mas não quer eliminá-lo; ou não pode e nem quer; ou pode e quer. Se quer e não pode é impotente; se pode e não quer, não nos ama; se não quer e nem pode, não é o Deus bom, e ademais é impotente; se pode e quer - e isto é o mais seguro -, então de onde vem o mal real e por que ele não o elimina?"
Segundo a doutrina cristã, Deus é Bom, é Todo-Poderoso e é Onisciente. Mas, se Deus é assim, como responder às objeções
 acima? Segundo as Escrituras, o mal não é uma criatura, assim como os astros, os seres humanos, anjos e animais.
O mal não foi criado por Deus, mas é a expressão do mau uso da liberdade. E este mal JÁ foi DERROTADO na
cruz e na ressurreição de Jesus, mas AINDA NÃO foi DESTRUÍDO. Mas em breve Deus destruirá o mal que já derrotou: Deus
julgará os vivos e os mortos e trará novos céus e nova terra, em que habitam justiça! Portanto, Deus é bom, é Todo-Poderoso e
é Onisciente, e vai destruir completamente o mal que já derrotou na cruz e na ressurreição de Jesus Cristo.
Seria um erro entender que a criação de todas as coisas foi obra do Pai de forma isolada. Tudo é obra da Trindade.
O Credo afirma que o Pai é Criador, mas não exclui a participação do Filho e do Espírito na obra da criação. Afirmando
de forma trinitária, o Pai cria todas as coisas (Sl 95.6) através do Filho (Jo 1.1-3; Hb 1.1-3), e dá vida à criação por meio
do Espírito (Gn 2.7).

2.5. DEUS PAI É TODO-PODEROSO. E DAÍ?
A Bíblia nos ensina que Deus Pai é Todo-Poderoso, e isto tem conseqüências muito grandes na nossa vida.
Em primeiro lugar, esta fé deve nos fazer descansar nEle, pois Ele domina sobre todas as coisas, e cuida de nós (Mt 6.25-34).
Em segundo lugar, esta fé deve produzir em nós esperança, pois Ele é poderoso para cumprir as promessas que nos fez (2Co 1.20; 2Pe 3.9), para nos salvar, e para criar novos céus e nova terra (Is 65.17; 66.22; 2Pe 3.13).
Em terceiro lugar, esta fé deve produzir em nós mais amor, pois Deus é um Pai amoroso (Lc 15.11-32).
Em quarto lugar, esta fé deve produzir em nós temor, pois Deus, com seu conhecimento e poder, julga com justiça, e disciplina aqueles a quem ama (Ap 3.19)

CONCLUINDO
Quando o Credo Apostólico afirma "Creio em Deus Pai Todo-Poderoso", ele quer dizer muitas coisas, entre as quais estão as seguintes:
→ Deus é Todo-Poderoso porque é o Criador de tudo o que existe (Gn 1.1-2.25; Sl 95.6; Is 40.26; 41.20; 42.5; 45.18; Ap 10.6), e além disso tem o domínio e o poder sobre tudo e sobre todos (Sl 22.28; 66.7; 89.9; 103.19; Dn 4.32).
→ No Antigo Testamento, Deus é Pai no sentido de ser o Criador (Dt 32.6; Ml 2.10), por ser misericordioso como um pai (Sl 103.13s), por ter escolhido o seu povo (Dt 14.1s), por não nos tratar de acordo com o mal que merecemos (Jr 3.4s; 3.19s; Ml 1.6), mas de acordo com sua misericórdia e perdão (Is 63.15s; 64,7s; Jr 31.9,20; Os 11.1-11).
→ Deus Pai não cria alheio ao Filho e ao Espírito, mas pelo contrário: O Pai cria todas as coisas através do Filho, e dá vida através do Espírito Santo.
 No Novo Testamento, Deus é Pai por ser o Pai de Jesus Cristo (Mt 3.17; 17,5; 26.39; Mc 1.11; 14.36; Lc 3.21s;  9.35; 10.22; Jo 1.18).
→ No Novo Testamento, Deus é Pai porque somos recebidos por ele como filhos em Cristo (Jo 1.12; Rm 8.15; Gl 4.5-6; Ef 1.5).
→ Para compreendermos mais profundamente o que a Bíblia quer dizer com "Deus Pai", devemos  acrescentar o significado e o valor de mãe (cf. Is 49.15; 66.13). Deus é mais que Pai e mais que Mãe; é Deus.


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Notas
(₁) JEREMIAS, Joachim. "Abbá", p. 23.

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